Só quem amou entende o que é saudade.
- Rafaella Bello
- 3 de ago. de 2015
- 2 min de leitura

E por falar em saudade, onde anda você, onde anda aquela boneca que ficava bronzeada quando ia ao sol? O gosto daquela manga, o frescor da piscina? E a amêndoa quebrada com pedra? O Sócrates? O Nelson, papagaio querido, que passava o dia gritando seu nome? E os periquitos? Onde foi parar aquela bicicleta velha de segunda mão? Os sacos de supermercado, que serviam como mochila, cheios de calcinha? E a rua repleta de pedras, onde foi parar? A cama encostada na parede? O rio das cordas, das pedras e o poço fundo? Os carrapatos? A cana de açúcar? Os carneiros? As formigas salvas no Box do banheiro? A poesia? A música de adulto? Seus livros secretos? Quero saber primeiro por onde anda você?! Depois me conte o que foi feito com o resto.
Hoje eu saio na noite vazia a te procurar, observando nos rostos modificados pela ação dos anos se algum ao menos lembra você. Entre uma taça e outra a sensação que você vai chegar aumenta, até que eu acordo em outro quarto, em outra cama, com outra pessoa, e meu pensamento volta novamente em você. Para tudo se repetir com tamanha frequência, nos dias seguintes.
Meus olhos marejados d´água ficam embaçados dificultando minha busca por você. Chego a pensar que estou indo aos lugares errados. Aqueles que costumávamos ir não mais existem. O velho Beliscão não se encontra mais próximo a Igreja de Fátima, lá era servido o melhor filé a parmegiana da cidade, com um molho bem escuro e tiras flambadas de banana. Em um momento de descontração, você colocou o apelido do prato de bosta de ladrão. Seu prato predileto. Para onde ele foi?
A Bossa Nova, não é mais natural. O que você não sabe e nem se quer pressente é que ainda tenho um coração, cheio de saudade, que bate de insistente, mesmo já muito cansado de te procurar. Acho que por amor a tudo que vivi, porque só quem amou entende de saudade. Saudade da inocência que me foi tirada. Dos amores não vividos, dos sonhos ainda não realizados, das campainhas não tocadas e principalmente do sabor dos beijos que me foram dados. Não gosto desse negócio de viver sem você.
Eu perguntei ao vento por onde anda você. Ele nada disse. Ao céu, mas ele calado ficou. Para o mar, como resposta me enviou uma onda. A flor me deu um espinho. A chuva me molhou toda. Fui me enxugar no banheiro e perguntei ao espelho, ele me mostrou você. Frágil, vulnerável, envelhecida, emotiva, enrugada e cheia de saudade. Achei você, uma soma de várias personalidades modificadas pelo tempo, agora quero saber o que foi feito com o resto.
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