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MEU BUQUÊ

  • Anchieta Mendes
  • 26 de jul. de 2015
  • 1 min de leitura

Estas são as flores que não mandei.

Por que não?

Porque a pessoa para que gostaria de as mandar

não existe, fisicamente.

Existe em meu pensamento,

vagueia em meus sonhos

e se tornou um sinal de mistério e divindade.

As flores que colhi,

em meu jardim,

tornaram-se um buquê,

em que se misturaram perfumes;

em que se vê um conjunto perfeito

e abençoado de ternura e encanto.

Alguma coisa de santo

e de pecado porque,

com as minhas flores, estão os meus pesadelos,

também, e os meus desejos inevitáveis,

guardados na lembrança.

Flores que marcaram

a minha colheita matinal,

ainda orvalhadas e iluminadas

pelo sol da manhã.

E eu me senti seguro

de que vivia uma realidade.

Ledo engano!

Tudo não passava de sonho,

de vontade adormecida no peito,

não passava de ilusão

capaz de me fazer criança.

As flores que colhi

e que não foram a nenhuma mão,

murcharam, como há muito murcharam

e despetalaram

as minhas esperanças e o meu consolo.

Tudo não passou de quimera:

As flores, as mãos, ainda perfumadas,

ficaram trêmulas, diante da emoção,

diante de uma realidade dura, dramática e indulgente.

As minhas flores estão secas,

guardadas com carinho.

Secos, também, os meus olhos,

que já não têm lágrimas nem luz.

As flores que ficaram, comigo,

como lembrança de um amor que não tive,

de uma história que não vivi.

Porque só vivi o sonho, a ilusão, a quimera e os desejos.

Todos perdidos.

As minhas flores murcharam,

as suas pétalas caem, uma a uma,

como têm caído os desejos de minha vida.

Só resta o perfume que elas ainda exalam,

Teimosamente,

E a saudade!


 
 
 

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